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Cidades digitais e IoTs: gestão de dados promovendo inteligência e inovação

Por Larissa Tavares*

IoT edit

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O conceito de “smart city” está diretamente atrelado ao uso de dados, que auxiliam gestores na tomada de decisão além de contribuírem com a otimização dos recursos gerando eficiência e conectividade. Estes dados precisam ser gerenciados a partir de múltiplas entradas, desde os IoTs até os sistemas de gestão do governo e aplicativos que são disponibilizados ao cidadão.

Os projetos nesse âmbito englobam múltiplos atores, como governantes, cidadãos, organizações, entidades públicas e privadas, dificultando o estabelecimento de uma única solução ou a consolidação de dados entre todas essas partes.

Muitas cidades têm avançado com a implementação de dispositivos inteligentes, os IoTs, como as lâmpadas de led, câmeras e os semáforos inteligentes, buscando alcançar melhores resultados a partir da otimização dos recursos. No caso da iluminação pública, por exemplo, os postes inteligentes podem capturar informações de trânsito, clima, movimentação de pessoas, entre outros dados que podem ser adaptados de acordo com as necessidades de cada cidade.

No caso do cidadão, a interação entre o governo e a população está mais próxima com a oferta dos serviços públicos digitais, acessados via portal ou aplicativo no celular. Visando incluir cada vez mais a população na era digital, as cidades têm disponibilizado redes públicas de wi-fi para acesso a internet.

Nesse sentido, embora saibamos que o uso dos dados é fundamental para auxiliar os gestores no planejamento de políticas públicas sustentáveis, existe uma preocupação crescente em relação à segurança e transparência na medida em que a transformação digital se acelera. Por isso, as políticas de compartilhamento de dados têm evoluído para abranger essa nova realidade, a fim de garantir segurança e confiabilidade aos usuários.

Podemos perceber que as iniciativas de inteligência requerem dados de diferentes fontes e soluções, muitas vezes implementadas em secretarias municipais separadas, tornando a integração dos dados um desafio para a disponibilização das informações estratégicas que devem chegar aos gestores públicos.

Alguns cases, que são referência mundial no que se refere às cidades inteligentes, demonstram que a integração e compartilhamento de dados são fundamentais para garantir resultados mais eficientes para a gestão pública.

Durante o meu MBA, tive a oportunidade de aprofundar meus estudos em 2 cases específicos, das cidades de Seattle, no estado de Washington – EUA, e Montevidéu, no Uruguai. Nessas cidades, o desenvolvimento de políticas voltadas à abertura de dados foi base para permitir que elas se tornassem um case de sucesso para as “smart cities”.

A cidade de Seattle é morada para grandes empresas de tecnologia e dados, como Microsoft, Amazon e Socrata. Em 2018, foi estabelecido o Conselho Consultivo de Inovação com o objetivo de reunir players de tecnologia e outras organizações de inovação, incluindo a Universidade de Washington, para o desenvolvimento de inteligência na melhoria de serviços e políticas urbanas, colocando Seattle no centro das atenções no que se refere a soluções emergentes para cidades inteligentes.

A cidade implementou diversas soluções de otimização, incluindo redução de emissões de carbono para transporte, soluções de monitoramento de precipitação, câmeras de segurança, programas de eficiência de água, inteligência de semáforos e outros programas para resolver problemas da cidade.

Enquanto Seattle se posiciona como um hub tecnológico, com a presença de startups e big techs, a cidade reforça seu programa de dados abertos, que disponibiliza os dados da cidade ao público.

O portal de dados abertos permite que qualquer cidadão encontre dados sobre os departamentos da cidade gratuitamente para uso e compartilhamento. Há documentação de API para as empresas integrarem seus serviços, categorizando dados por área, como educação, finanças, saúde pública e transporte, incluindo dashboards da cidade e a possibilidade de enviar seu projeto de dados abertos.

O case de Montevidéu também chama bastante atenção. A cidade foi a 1ª na América Latina a implementar uma política de dados abertos. Além disso, no Uruguai há uma lei que estabelece que todos os softwares produzidos pelo governo são por default softwares com código aberto.

Montevidéu é considerada referência em governo digital e um dos principais exportadores de software da América Latina. O Proyect Montevidéu 2030 contempla uma plataforma de integração de tecnologia e estratégias digitais de governo eletrônico de longo prazo.

Com o objetivo de promover o governo aberto e a inclusão digital, o Uruguai criou em 2007 a AGESIC, Agencia de Gobierno Electrónico y Sociedad de la Información y del Conocimiento, que desenvolve programas de tecnologia. Esses programas foram desenvolvidos especialmente na capital, Montevidéu, e passaram a fazer parte da agenda nacional, promovendo inovação e gerando valor e eficiência para a administração pública.

As iniciativas incluíram acesso em banda larga para 80% dos uruguaios, assinaturas eletrônicas em transações relacionadas ao Estado, serviços e processos digitais, publicação de dados e transparência, serviços inteligentes para a cidade nas áreas de transporte, moradia, saúde etc. e participação cidadã.

Ao analisar os casos dessas cidades, percebemos que tanto em Seattle como em Montevidéu, o compartilhamento de dados e o uso de códigos abertos para a produção de software contribuíram para o desenvolvimento de soluções específicas para resolver os problemas da cidade, muitas vezes pelos próprios cidadãos.

À medida que as cidades crescem e vivenciamos novos desafios, precisamos repensar a sustentabilidade do planejamento estratégico das políticas tecnológicas no longo prazo, a fim de que os projetos implementados agora sejam contínuos e abordem as dificuldades no que diz respeito ao uso e à integração dos dados gerados. Portanto, a qualidade das informações disponibilizadas para gerar eficiência na gestão da cidade depende da capacidade de integração e compartilhamento de dados.

Uma vez que novas iniciativas de inteligência são implementadas, há uma melhoria na qualidade dos serviços públicos prestados, contribuindo com mais qualidade de vida para o cidadão. Essas são as cidades inteligentes e digitais, que geram eficiência, transparência e desenvolvimento econômico.

*Larissa Tavares é formada em Relações Internacionais, está cursando MBA no Insper e atua há mais de 10 anos em projetos de inovação. Atualmente, gerencia a área de Marketing da Sonner, uma empresa que há 25 anos desenvolve soluções tecnológicas para tornar as cidades mais inteligentes.


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